ENTRE A INDIFERENÇA E O MEDO (leitura para uma manhã de domingo)
Recentemente rememoramos a música “Aluga-se”de Raul Seixas através de uma propaganda televisiva de uma conhecida marca de automóveis. Em 30 segundos o comercial desmoronou a ironia do refrão (“nós não vamos pagar nada!”) para vender carros sem juros. Mais do que o talento do publicitário, o que me chamou a atenção nesse fato é a capacidade do capitalismo em absorver toda a forma de discurso a seu favor. Ela assimila e pasteuriza toda e qualquer prática não hegemônica tornando-a essa mesma impotente. Agora entendo Baudrillard quando escreveu “Vivemos na reprodução indefinida de ideais, de fantasmas, de imagens, de sonhos que doravante ficaram para trás e que, no entanto, devemos reproduzir numa espécie de indiferença fatal”.
Nesses últimos dias estamos assistindo a cópia de um discurso rebelde e dito libertário para barrar a proibição da comercialização da venda de armas. Alguns dizem “Imagine se um governo totalitário toma o poder” “Como iremos reagir?” “Cidadãos do mundo inteiro armai-vos para preservar a democracia!”. Reproduz-se esse discurso, negando a lógica de que uma arma revolucionária é por definição ilegal. Mas isso pouco importa. O ideal revive, nossos sonhos juvenis estão aí para proteger a boa rentabilidade da Taurus Co.
Evidentemente essa estratégia do ‘libelo rebelde para o lucro’ seria insuficiente para assegurar os direitos da indústria de armamentos. Afinal, nem todas as pessoas pró ‘não’ são chegados a democracia, e mesmo as que são, muitas não tem qualquer vocação revolucionária. Para essas há uma outra estratégia pairando no ar mais eficaz, pois mexe com nossos instintos mais primitivos: a manipulação do medo - a criação de um estado paranóico que leva a pessoa a acreditar que sua casa será invadida em caso da vitória do ‘sim’. Grande parte das pessoas do “não”, não tem armas e nem pretendem ter mas votam no ‘não’ por que dizem: “sei lá né? Vai que um ladrão entra na minha casa, não posso não ter o direito de me defender”. Ora, muitas são as consciências e muitas são as realidades. Poucas negariam que existe violência, mas quando alguém reivindica o direito de portar um objeto, sem nunca ter considerado a arma uma boa forma de proteção (se não já portaria uma arma), por causa de um suposto ataque futuro é porque a indústria do medo já o tomou de assalto. Só lhe resta entrincheirar-se, protegendo sua propriedade, sua família e rezando a Deus.
Um comentário:
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