Adeus, amigo (tanta tristeza e tanta alegria também)
Foi em algum período nas férias de 2000 para 2001. Por ocasião de um casamento da família que aconteceria aqui no Rio, Clóvis e tia Cristina, sua mãe, se hospedaram aqui em casa. Posso dizer que antes dessa data, minha relação com o Clóvis era um tanto burocrática. Não poderia ser diferente. Eu o via apenas uma vez por ano, na ocasião das festas natalinas. Mas a partir desse contato que tivemos no rio nasceu uma sincera e tenra amizade, marcada por uma profunda identificação. Jamais vou me esquecer da filosofia de Heráclito me ensinada na praia ("Um homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque nunca é o mesmo rio e nunca é o mesmo homem"). Jamais vou me esquecer da vez em que ele puxou um baseado na casa de um amigo meu, filho de desembargador, e começou a filosofar (para espanto do dono da casa e riso de todos). Como podia tê-lo conhecido só agora?Pensei. Mal sabia eu que já o conhecia desde o começo das eras.
Com o computador e o msn, nossa ligação estreitou-se ainda mais. Nossas conversas filosóficas e estéticas varavam a madrugada, evidenciando cada vez mais nosso gosto em comum. Platão, Nietzsche e Milton Nascimento costumavam se misturar com orkut, eleições e outras banalidades nem tão banais assim.
Ah Clóvis, que saudades tenho de ti. Você que me instigava com seus pensamentos abstratos, agora me deixa desamparado. Como vou filosofar agora? Tento decifrar as causas desse gesto violento, mas sou incapaz de uma conclusão. Jamais saberei, e acho que ninguém saberá, o que você sentia em silêncio. Só posso agradecer a Deus por ter te conhecido nessa sua passagem pela terra. Apesar de eu ter chorado um bocado de vezes, esse meu sofrimento é ínfimo perto das coisas boas que você me deixou. E essas eu vou guardar para sempre. Um abraço forte, de seu primo querido.
[Agradeço as pessoas que postaram as últimas palavras para nosso amigo querido. Mas não tentem entender ou sentir-se culpado. A melhor forma de homenagear o Clovis é sentir-se bem, que é o que ele sempre se esforçava para as pessoas sentirem.]