quarta-feira, agosto 01, 2007

ANTONIONI

Por me fazer enxergar por me fazer escutar
o vazio oculto o silêncio inquieto obrigado.

sexta-feira, junho 15, 2007

DIAGRAMA DE VENN E A POLITICA


Há quem diga que Venn não inventou o diagrama. Alguns afirmam que Euler, um século antes, foi quem primeiro o traçou. Outros salientam ainda que Leibniz já tinha esboçado algo parecido. Não importa. O fato é que o diagrama está aí presente nas nossas vidas para resolver problemas, dirimir conflitos, quiçá conquistar a paz mundial.

Sem o instrumento do diagrama os conceitos podem parecer absolutamente indefiníveis porque muitas vezes eles se interpenetram, o que ocasiona ruído no processo da comunicação humana. Isso é sintomático nas questões políticas, na qual os conceitos se modificam com o tempo, de sociedade a sociedade - impossíveis de serem amarrados em compartimentos estanques. Peguemos um exemplo atual: as categorias políticas de esquerda, liberal e conservador. Afinal o que define cada uma delas?




quarta-feira, maio 09, 2007


URBIS


Quando fotografei o centro do Rio de Janeiro, e lá se vão sete anos, lembro-me que ao olhar as fotos reveladas, subitamente fui tomado por um sentimento profundamente melancólico. Sentimento que não era forjado, certamente, pois o centro do Rio para mim sempre fora um lugar de efervescência, de muito barulho e correria. E eu queria expor de certa forma esse espaço incansável. Mas foi inútil. As imagens ali, estáticas, pálidas (o serviço de revelação também não tinha sido bom), sem aquele barulho ensurdecedor do trânsito, sem aquele movimento das pessoas, ficavam solitárias, tristinhas até. E também tinha aquele sol de fim de tarde que só percebemos a gravidade de seu espectro quando marcada na foto.
E hoje aquelas imagens me inquietam duplamente: tanto por essa sensação de melancolia de antes quanto por uma nostalgia. Nostalgia não daquelas pessoas (que as desconheço) ou daquele lugar que volta e meio estou por lá. Mas algo puramente meu. Não é como olhar a foto de um Rio antigo e dizer “olha que bonito, seria tão bom viver naquele tempo”. Não há nada de ‘charmoso’ nelas. A nostalgia que sinto ninguém é capaz de sentir. É um sentimento vago que transitam várias lembranças misturadas. Lembro-me daquele período, talvez, de alguns momentos daquele dia, mas sou incapaz de lembrar da atmosfera de quando bati as fotos. Sou incapaz de lembrar das pessoas, do estado de espírito delas. Elas me soam estranhas, talvez, tanto quanto outro alguém que fosse olhar aquelas fotografias pela primeira vez. A nostalgia que sinto nada tem a ver com as imagens em si.
Olho a foto daquela mulher, (continuo não lembrar daquele instante) e só o que vejo é a melancolia. Ela poderia estar numa alegria efusiva naquele momento. Talvez ela tenha abaixado a cabeça apenas num gesto repentino com intuito de ler qualquer coisa sobre as mãos. E que culpa ela tem da má iluminação do centro? Mas nada disso parece importar a foto. Como deixar de ver sua melancolia?
Bazin comparou a fotografia a uma máscara mortuária, por conter o molde do objeto fotografado, que sempre retorna. Mas que retorno é esse? A fotografia só me devolve a ‘carcaça’, não o objeto. É como um defunto, um invólucro, que é tudo aquilo que não importa. A alegria, ou talvez, o tédio, daquela mulher despareceram para sempre, impossível de retornarem. Em seu lugar vejo o invísivel. Vejo aquela melancolia ausente daquela pobre mulher que caminha solitária pelo centro do rio.
Passo os olhos nas fotos do meu passado que é como um passeio no cemitério (aqui o termo 'mortuária' ganha uma dimensão concreta). Só o que ouço é o silêncio; e naquelas pessoas, naquelas fachadas, em todas, as coisas vejo fantasmas.





A cor do sol nesses prédios me lembra de um velório,
cuja fresta de luz ilumina o caixão



A cidade guarda seres invisíveis.



Olho as pessoas, as fachadas.
Em todas as coisas vejo fantasmas.



domingo, março 25, 2007

Adeus, amigo (tanta tristeza e tanta alegria também)

Foi em algum período nas férias de 2000 para 2001. Por ocasião de um casamento da família que aconteceria aqui no Rio, Clóvis e tia Cristina, sua mãe, se hospedaram aqui em casa. Posso dizer que antes dessa data, minha relação com o Clóvis era um tanto burocrática. Não poderia ser diferente. Eu o via apenas uma vez por ano, na ocasião das festas natalinas. Mas a partir desse contato que tivemos no rio nasceu uma sincera e tenra amizade, marcada por uma profunda identificação. Jamais vou me esquecer da filosofia de Heráclito me ensinada na praia ("Um homem não se banha duas vezes no mesmo rio, porque nunca é o mesmo rio e nunca é o mesmo homem"). Jamais vou me esquecer da vez em que ele puxou um baseado na casa de um amigo meu, filho de desembargador, e começou a filosofar (para espanto do dono da casa e riso de todos). Como podia tê-lo conhecido só agora?Pensei. Mal sabia eu que já o conhecia desde o começo das eras.
Com o computador e o msn, nossa ligação estreitou-se ainda mais. Nossas conversas filosóficas e estéticas varavam a madrugada, evidenciando cada vez mais nosso gosto em comum. Platão, Nietzsche e Milton Nascimento costumavam se misturar com orkut, eleições e outras banalidades nem tão banais assim.

Ah Clóvis, que saudades tenho de ti. Você que me instigava com seus pensamentos abstratos, agora me deixa desamparado. Como vou filosofar agora? Tento decifrar as causas desse gesto violento, mas sou incapaz de uma conclusão. Jamais saberei, e acho que ninguém saberá, o que você sentia em silêncio. Só posso agradecer a Deus por ter te conhecido nessa sua passagem pela terra. Apesar de eu ter chorado um bocado de vezes, esse meu sofrimento é ínfimo perto das coisas boas que você me deixou. E essas eu vou guardar para sempre. Um abraço forte, de seu primo querido.




[Agradeço as pessoas que postaram as últimas palavras para nosso amigo querido. Mas não tentem entender ou sentir-se culpado. A melhor forma de homenagear o Clovis é sentir-se bem, que é o que ele sempre se esforçava para as pessoas sentirem.]